terça-feira, 26 de abril de 2011


28.ª semana ~ de 26 a 29 de Abril






  • Cesário Verde.


CESÁRIO VERDE visto por poetas portugueses - aqui - Colóquio/Letras -

número
especial de homenagem a C.V.,

no centenário da sua morte .


Três Mestres

Houve em Portugal, no século XIX, três poetas, e três somente, a quem legitimamente compete a designação de mestres. São eles, por ordem de idades, Antero de Quental, Cesário Verde e Camilo Pessanha. […]

Com Antero de Quental se fundou entre nós a poesia metafísica, até ali não só ausente, mas organicamente ausente, da nossa literatura. Com Cesário Verde se fundou entre nós a poesia objectiva, igualmente ignorada entre nós. Com Camilo Pessanha a poesia do vago e do impressivo tomou forma portuguesa. Qualquer dos três, porque qualquer um homem de génio, é grande não só adentro de Portugal, mas em absoluto. […]

A cada um de só três poetas, no Portugal dos séculos XIX e XX, se pode aplicar o nome “mestres”. São eles Antero de Quental, Cesário Verde e Camilo Pessanha. Concedo que se lhes anteponham outros quantos ao mérito geral; não concedo que algum outro se possa antepor a qualquer deles nesse abrir de um novo caminho, nessa revelação de um novo sentir, que em matéria literária propriamente constitui a mestria. É mestre quem tem de ensinar; só eles, na poesia portuguesa desse tempo, tiveram que ensinar.

O primeiro ensinou a pensar em ritmo; descobriu-nos a verdade de que o ser imbecil não é indispensável a um poeta. O segundo ensinou a observar em verso; descobriu-nos a verdade de que ser cego, ainda que Homero em lenda o fosse e Milton em verdade se tornasse, não é qualidade necessária a quem faz poemas. O terceiro ensinou a sentir veladamente; descobriu-nos a verdade de que ser poeta não é mister trazer o coração nas mãos, senão que basta trazer nelas a sombra dele. […]

Fernando Pessoa




METEMPSICOSE

Ardentes filhas do prazer, dizei-me!
Vossos sonhos quais são, depois da orgia?
Acaso nunca a imagem fugidia
Do que fostes, em vós se agita e freme?


Noutra vida e outra esfera, onde geme
Outro vento, e se acende um outro dia,
Que corpo tínheis? Que matéria fria
Vossa alma incendiou, com fogo estreme?

Vós fostes nas florestas bravas feras,
Arrastando, leoas ou panteras,
De dentadas d'amor um corpo exangue...


Mordei pois esta carne palpitante,
Feras feitas de gaze fluante!
Lobas! Leoas! sim, bebei meu sangue!

in Primaveras Românticas, (1863 a 1865)
Poesias de Antero de Quental, Seara Nova 1981

A UMA MULHER

Para tristezas, para dor nasceste.
Podia a sorte pôr-te o braço estreito
Nalgum palácio e ao pé de régio leito,
Em vez deste areal onde cresceste:

Podia abrir-te as flores - com que veste
As ricas e as felizes - nesse peito;
Fazer-te... o que a Fortuna há sempre feito...
Terias sempre a sorte que tiveste!

Tinhas de ser assim... Teus olhos fitos,
Que não são deste Mundo e onde eu leio
Uns mistérios tão tristes e infinitos,

Tua voz rara e esse ar vago e esquecido,
Tudo me diz a mim, e assim o creio,
Que para isto só tinhas nascido!

in A Geração de 70 - Sonetos de Antero de Quental,
Prefácio de Oliveira Martins, Circulo de Leitores, 1987




FLORIRAM POR ENGANO AS ROSAS BRAVAS


Floriram por engano as rosas bravas
No Inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?

Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que num momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!

E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópele de gelos...

Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze - quanta flor! - do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?


in Clepsidra e outros poemas,
Colecção Poesia, Edições Ática 1973

DESEJOS

Se medito no gozo que promette
A sua bocca fresca e pequenina
E o seio mergulhado em renda fina,
Sob a curva ligeira do corpete,

Desejo, nun's transportes de gigante,
Estreital-a de rijo entre os meus braços,
Até quasi esmagar n'estes abraços
A sua carne branca e palpitante;

Como, d'Asia nos bosques tropicaes,
Apertam em spiral auri-luzente,
Os muscullos herculeos da serpente
Aos troncos das palmeiras collossaes...

E como ao depois, quando o cansaço
A sepultura na morna lethargia,
Dormitando repousa todo o dia
À sombra da palmeira o corpo lasso;

Eu quizera tambem, adormecido,
Dos phantasmas da febre ver o mar,
Mas sempre sob o azul do seu olhar,
Envolto no calor do seu vestido;

Como os ébrios chineses delirantes
Aspiram, já dormindo, o fumo quieto
Que o seu longo cachimbo predilecto
No ambiente aspalhava pouco antes...

in Clepsydra




domingo, 10 de abril de 2011


final do 2.º período






Com unhas e dentes


Estar vivo

é abrir uma gaveta

na cozinha,

tirar uma faca de cabo preto,

descascar uma laranja.

Viver é outra coisa:

deixas a gaveta fechada

e arrancas tudo

com unhas e dentes,

o sabor amargo da casca,

de tão doce,

não o esqueces.

Luís Filipe Parrado, Resumo,

p. 99 [selec. por: J. T. M.; M. F.; de Criatura/5 ]

~ aqui ~





segunda-feira, 4 de abril de 2011


27.ª semana ~ de 4 a 8 de abril




in Público de 16 de Dezembro de 2000


  • Avaliação.




in Diário de Notícias de 15 de Agosto de 2000